October 10, 2010

Aprender com os erros (Doce de Banana, sem a Própria)


"Errar é humano". Crescemos a ouvir esta frase. Lembram-nos com frequência que somos falíveis... e que é isso que faz de nós (mais) humanos. Eu erro muitas vezes. Mais do que aquelas que gostava, e até mais do que aquelas que podia. Mas não faz mal. Continuo a acreditar que todos os erros nos ensinam qualquer coisa (quanto mais não seja, muitas vezes, a errar melhor, com outra consciência, com outras expectativas).

Hoje resolvi partilhar a experiência de uma receita que podia ter corrido muito melhor. Tinha umas bananas (da Madeira) a estragarem-se no frigorífico, à espera da oportunidade certa para as entregar ao seu legítimo dono. Nem sempre quem espera alcança, e o destino das "minhas" bananas acabou mesmo por ser outro: "a minha primeira sobremesa". Há já algum tempo que estava com vontade de me aventurar nesse mundo (até então desconhecido) das sobremesas. Aproveitei o facto de ter de fazer qualquer coisa com o destino daquelas bananas, e juntei-as a uma sobremesa que tinha na cabeça.
Errei... porque a sobremesa afinal fica bem é sem as bananas. E, se ainda não soubesse, teria também aprendido que não vale a pena esperarmos pela "altura certa". Será sempre amanhã, ou foi sempre ontem (a "altura certa" destas bananas já tinha passado há algum tempo, e eu continuava a adiar ). Mas aprendi (e, melhor ainda, remediei). E fui recompensada por isso :)

DOCE DE BANANA, SEM A PRÓPRIA

Este doce leva 3 camadas (foi aliás, o que o salvou. Já explico porquê), que vão sendo dispostas num tabuleiro, ou numa forma.

A primeira camada é parecida com base de cheesecake: peguei num pacote de bolacha Shortcake de chocolate (não dá mesmo para ser outra, esqueçam e nem me venham com teorias!) e triturei-a (teve de ser com a varinha mágica, mas se tiverem uma "1-2-3" vão ficar certamente com a cozinha muito menos suja e farão a coisa muito mais depressa) e misturei com um bocado de manteiga derretida. Espalhei a mistura na base do tabuleiro (o objectivo é ter uma camada o mais direita possível, o mais compactada possível., a fazer imenso sentido. Eu usei um rolo para ficar tudo "comme il faut").
A segunda camada é Flan Chino (adoro!), por isso basicamente o melhor é comprar uma embalagem e seguir as indicações que eles dão (sem se meterem nas invenções dos pudins de ovos nem nos caramelos: é mesmo só o pó, açucar e leite). Fiz o que eles mandaram e deitei o pudim (líquido) por cima da minha base de bolacha. Frigorífico com ele (para o pudim solidificar)!

Ora bem... última camada: a primeira versão levou as tais bananas (cozidas e trituradas), misturadas com leite condensado e natas. Felizmente, consegui corrigir o erro, deitando fora a camada de cima e refazendo assim: bati um pacote de natas com um bocado de açucar (não muito, que isto já é tudo muito doce!) até ficar cremoso (tipo chantilli). Misturei depois as natas com uma lata de leite condensado cozido (comprei já assim, mas se cozerem vocês não esqueçam de deixar arrefecer antes de abrir a lata!). Eu misturei com a batedeira na velocidade mínima, mas se não tiverem uma batedeira croma como a minha  - com 5 velocidades e mais o turbo... parece um carro! - o melhor é misturarem à mão, para ficar cremoso.
E pronto, quando o pudim estiver sólido, deitem esta camada por cima das outras duas. Depois de uns minutos no frio, está pronto para servir!
Se forem maricas como eu, toca de derreter um bocadinho de chocolate de cozinha, e fazer uns bonecos por cima :)

October 6, 2010

Caçar com gato ( Risotto de espargos e cogumelos com queijo da Ilha)

[em primeiro lugar, deixo aqui a promessa de um regresso mais regular a estas lides das escritas e da cozinha]

Não quero aprofundar muito este assunto, mas a verdade é que, ao longo dos últimos tempos, estou cada vez mais convencida que o nosso sucesso ou insucesso, seja em área da nossa vida for, depende em larga escala da forma como lidamos com as adversidades e os imprevistos. Todos temos planos, mas eu acredito que a vida se encarrega de nos mostrar que não vale a pena perdermos muito tempo a pensar na viagem de sonho, na casa de sonho, no homem (ou na mulher) de sonho, na vida de sonho. Felizmente, ao longo do tempo, vamos aprendendo que nem sempre as melhores feijoadas levam feijões e vamos descobrindo como as fazer apenas com aquilo que temos à nossa disposição na altura.

Faço na cozinha o mesmo que na vida: deixa-me ver o que está na dispensa, que eu prometo que vou dar o meu melhor :)


RISOTTO DE ESPARGOS E COGUMELOS COM QUEIJO DA ILHA

Tinha o frigorífico cheio de cogumelos e espargos, quase a estragarem-se. Também precisava de acabar com um queijo da ilha que estava para ali. Havia uma garrafa de vinho branco aberta e um pacote de arroz para risotto já aberto que me estava a mexer com o sistema nervoso. Achei que todos juntos seriam muito mais felizes.

Comecei por refogar cebola (duas) e alho em azeite, juntando-lhe depois espargos verdes crus bem cortadinhos e cogumelos (normais) cortados em "cubos".  Deixei cozinhar um bocadinho e juntei arroz , mexendo sempre. Temperei com sal e pimenta preta moída na hora. Entretanto, pus ao lume um tacho com água e dois caldos knorr (desta vez pus um de galinha e outro próprio para arroz, que foram os primeiros que apanhei. Gosto de dar um bocado de aleatoriedade -?-  a tudo o que faço). Quando o arroz começou a ficar com um branco diferente do inicial, reguei-o com vinho branco (deve ter sido mais ou menos um copo) e voltei a mexer.
Quando o vinho evaporou, deitei duas conchas do caldo (que entretanto já estava a ferver) e mexi. E o processo é sempre esse até ao arroz estar cozido: caldo, mexe, quando começa a ficar mais seco... mais caldo! Quando achei que estava cozido (para mim o ideal é quando está cozido, mas ainda dá alguma luta, para depois não ficar demasiado empapado) juntei queijo da ilha (dá ao risotto um sabor mais forte, mas óptimo) e parmesão, ambos ralados na altura, mexendo sempre. Apaguei o lume, e juntei manjericão picado e uma colher de sopa de manteiga e umas gostas de limão espremido.
Quando servi, pus mais um bocadinho de pimenta preta moída na altura e fiz um "desenho artístico" por cima, com redução de balsâmico em creme (compra-se no supermercado, mas também é fácil de fazer em casa). Os pratos ficaram giríssimos (pena não ter a máquina fotográfica operacional) e o balsâmico fica muito bem (confesso que esta aprendi com o Chakall no fim-de-semana passado ;) ).