October 10, 2010

Aprender com os erros (Doce de Banana, sem a Própria)


"Errar é humano". Crescemos a ouvir esta frase. Lembram-nos com frequência que somos falíveis... e que é isso que faz de nós (mais) humanos. Eu erro muitas vezes. Mais do que aquelas que gostava, e até mais do que aquelas que podia. Mas não faz mal. Continuo a acreditar que todos os erros nos ensinam qualquer coisa (quanto mais não seja, muitas vezes, a errar melhor, com outra consciência, com outras expectativas).

Hoje resolvi partilhar a experiência de uma receita que podia ter corrido muito melhor. Tinha umas bananas (da Madeira) a estragarem-se no frigorífico, à espera da oportunidade certa para as entregar ao seu legítimo dono. Nem sempre quem espera alcança, e o destino das "minhas" bananas acabou mesmo por ser outro: "a minha primeira sobremesa". Há já algum tempo que estava com vontade de me aventurar nesse mundo (até então desconhecido) das sobremesas. Aproveitei o facto de ter de fazer qualquer coisa com o destino daquelas bananas, e juntei-as a uma sobremesa que tinha na cabeça.
Errei... porque a sobremesa afinal fica bem é sem as bananas. E, se ainda não soubesse, teria também aprendido que não vale a pena esperarmos pela "altura certa". Será sempre amanhã, ou foi sempre ontem (a "altura certa" destas bananas já tinha passado há algum tempo, e eu continuava a adiar ). Mas aprendi (e, melhor ainda, remediei). E fui recompensada por isso :)

DOCE DE BANANA, SEM A PRÓPRIA

Este doce leva 3 camadas (foi aliás, o que o salvou. Já explico porquê), que vão sendo dispostas num tabuleiro, ou numa forma.

A primeira camada é parecida com base de cheesecake: peguei num pacote de bolacha Shortcake de chocolate (não dá mesmo para ser outra, esqueçam e nem me venham com teorias!) e triturei-a (teve de ser com a varinha mágica, mas se tiverem uma "1-2-3" vão ficar certamente com a cozinha muito menos suja e farão a coisa muito mais depressa) e misturei com um bocado de manteiga derretida. Espalhei a mistura na base do tabuleiro (o objectivo é ter uma camada o mais direita possível, o mais compactada possível., a fazer imenso sentido. Eu usei um rolo para ficar tudo "comme il faut").
A segunda camada é Flan Chino (adoro!), por isso basicamente o melhor é comprar uma embalagem e seguir as indicações que eles dão (sem se meterem nas invenções dos pudins de ovos nem nos caramelos: é mesmo só o pó, açucar e leite). Fiz o que eles mandaram e deitei o pudim (líquido) por cima da minha base de bolacha. Frigorífico com ele (para o pudim solidificar)!

Ora bem... última camada: a primeira versão levou as tais bananas (cozidas e trituradas), misturadas com leite condensado e natas. Felizmente, consegui corrigir o erro, deitando fora a camada de cima e refazendo assim: bati um pacote de natas com um bocado de açucar (não muito, que isto já é tudo muito doce!) até ficar cremoso (tipo chantilli). Misturei depois as natas com uma lata de leite condensado cozido (comprei já assim, mas se cozerem vocês não esqueçam de deixar arrefecer antes de abrir a lata!). Eu misturei com a batedeira na velocidade mínima, mas se não tiverem uma batedeira croma como a minha  - com 5 velocidades e mais o turbo... parece um carro! - o melhor é misturarem à mão, para ficar cremoso.
E pronto, quando o pudim estiver sólido, deitem esta camada por cima das outras duas. Depois de uns minutos no frio, está pronto para servir!
Se forem maricas como eu, toca de derreter um bocadinho de chocolate de cozinha, e fazer uns bonecos por cima :)

October 6, 2010

Caçar com gato ( Risotto de espargos e cogumelos com queijo da Ilha)

[em primeiro lugar, deixo aqui a promessa de um regresso mais regular a estas lides das escritas e da cozinha]

Não quero aprofundar muito este assunto, mas a verdade é que, ao longo dos últimos tempos, estou cada vez mais convencida que o nosso sucesso ou insucesso, seja em área da nossa vida for, depende em larga escala da forma como lidamos com as adversidades e os imprevistos. Todos temos planos, mas eu acredito que a vida se encarrega de nos mostrar que não vale a pena perdermos muito tempo a pensar na viagem de sonho, na casa de sonho, no homem (ou na mulher) de sonho, na vida de sonho. Felizmente, ao longo do tempo, vamos aprendendo que nem sempre as melhores feijoadas levam feijões e vamos descobrindo como as fazer apenas com aquilo que temos à nossa disposição na altura.

Faço na cozinha o mesmo que na vida: deixa-me ver o que está na dispensa, que eu prometo que vou dar o meu melhor :)


RISOTTO DE ESPARGOS E COGUMELOS COM QUEIJO DA ILHA

Tinha o frigorífico cheio de cogumelos e espargos, quase a estragarem-se. Também precisava de acabar com um queijo da ilha que estava para ali. Havia uma garrafa de vinho branco aberta e um pacote de arroz para risotto já aberto que me estava a mexer com o sistema nervoso. Achei que todos juntos seriam muito mais felizes.

Comecei por refogar cebola (duas) e alho em azeite, juntando-lhe depois espargos verdes crus bem cortadinhos e cogumelos (normais) cortados em "cubos".  Deixei cozinhar um bocadinho e juntei arroz , mexendo sempre. Temperei com sal e pimenta preta moída na hora. Entretanto, pus ao lume um tacho com água e dois caldos knorr (desta vez pus um de galinha e outro próprio para arroz, que foram os primeiros que apanhei. Gosto de dar um bocado de aleatoriedade -?-  a tudo o que faço). Quando o arroz começou a ficar com um branco diferente do inicial, reguei-o com vinho branco (deve ter sido mais ou menos um copo) e voltei a mexer.
Quando o vinho evaporou, deitei duas conchas do caldo (que entretanto já estava a ferver) e mexi. E o processo é sempre esse até ao arroz estar cozido: caldo, mexe, quando começa a ficar mais seco... mais caldo! Quando achei que estava cozido (para mim o ideal é quando está cozido, mas ainda dá alguma luta, para depois não ficar demasiado empapado) juntei queijo da ilha (dá ao risotto um sabor mais forte, mas óptimo) e parmesão, ambos ralados na altura, mexendo sempre. Apaguei o lume, e juntei manjericão picado e uma colher de sopa de manteiga e umas gostas de limão espremido.
Quando servi, pus mais um bocadinho de pimenta preta moída na altura e fiz um "desenho artístico" por cima, com redução de balsâmico em creme (compra-se no supermercado, mas também é fácil de fazer em casa). Os pratos ficaram giríssimos (pena não ter a máquina fotográfica operacional) e o balsâmico fica muito bem (confesso que esta aprendi com o Chakall no fim-de-semana passado ;) ).


 

May 9, 2010

Amizade (Peixe "au" sal e sopa de cogumelos)

[um post com duas semanas de atraso...]

O melhor da vida são as pessoas. E se há aquelas que passam por nós, nos marcam, e seguem o seu caminho... há também as que ficam. É com essas que partilhamos, no verdadeiro sentido da palavra. São essas que procuramos quase diariamente, para contar como correu o nosso dia, para mostrar um cd novo que comprámos ou que alguém nos ofereceu, para rirem connosco dos disparates que fazemos e dizemos, para "ralharem" connosco quando achamos que alguém tem de o fazer, para nos ajudar a marcar baínhas de cortinados, para lhes dizer que nos preocupamos, para aprender coisas novas ou para questionar as que já aprendemos, para encarar desafios e para nos desafiarem. Para tudo e para nada.

São essas as pessoas que chamamos para coisas tão simples como para passar uma tarde de sábado, contar que finalmente fomos ao mercado do bairro onde agora moramos, e provar as nossas experiências gastronómicas (resultantes dessa visita ao mercado).

Porque a verdadeira amizade, como eu a vejo, é mesmo isso: estar presente nos pequenos momentos da mesma forma que se está presente nos grandes. Porque, apesar de existirem "momentos-chave" na vida de toda a gente (e que, sem dúvida, nos marcam), eles são apenas uma pequena parte daquilo que somos. Os verdadeiros grandes amigos não são aqueles que estão presentes no dia do nosso aniversário, ou os que vão ao nosso casamento ou à nossa festa de formatura; São aqueles que, diariamente, fazem com que a vida (e os aniversário, os casamentos e as formaturas) seja algo que vale a pena celebrar.


PEIXE "AU" SAL

Já andava há algum tempo com vontade de fazer este prato. Quando cozinhado desta forma, o peixe mantém o seu sabor original, pelo que queria deixar esta receita para um dia em que tivesse oportunidade de comprar um bom peixe fresco. 
Passei no mercado da Boa-Hora (é um mercado diferente, as "lojas" são viradas para a rua; Confesso que me fez lembrar um bocadinho as viagens a Marrocos) e vi umas douradas com bom aspecto numa das bancas. Sabia que não eram de viveiro, porque eram todas de tamanho diferentes (dica para o futuro: quando virem peixe fresco à venda, todo muito arrumadinho e todo exactamente do mesmo tamanho, eles foram certamente criados em viveiros de aquacultura). Esqueci-me de perguntar à peixeira o nome dela (tenho este defeito: gosto de tratar as pessoas pelo primeiro nome). Foi quase tão grave como ter-me esquecido de a avisar que ia fazer o peixe no sal. Isso teria feito com que ela não o amanhasse (ou o fizesse cortando o menos possível a barriga) e não lhe tirasse completamente as escamas. Se fizerem esta receita, não se esqueçam de  pedir isso à peixeira (tratando-a pelo primeiro nome ;) ).

Quando cheguei a casa, comecei a pesquisar na net. Encontrei várias receitas: desde as que me diziam para usar 3 kg de sal (que eu não tinha...) às que me mandavam juntar ao sal claras em castelo (idem). Portanto, não segui nenhuma delas, e fiz assim: resolvi "encher" a barriga das douradas, para tentar remediar o meu esquecimento, e evitar que o sal entrasse; Fi-lo com um ramo de coentros que tinha comprado no mercado (ao qual juntei uma folhas de alecrim). "Forrei" o fundo do tabuleiro com sal, e, depois de as passar por água (achei que assim o sal ia aderir melhor e formar uma camada) pus lá as douradas. O passo seguinte é o mais importante, e passa por tapar o peixe com sal. E é para tapar mesmo, sem medo! Não é para temperar, nem para criar uma camadinha de sal. É tapar mesmo! :) O resultado tem de ser, no mínimo, um peixe branco (mesmo branco) ou uma planície de sal (no sentido em que só sabemos que por baixo há peixe porque fomos nós que o pusémos lá :) ). Antes de pôr o tabuleiro no forno, atirei umas gotas de água para cima do monte de sal (com cuidado, para não remover o sal) e pus uns ramos de alecrim por cima. 
Não me recordo da temperatura do forno, mas deve ter sido elevada. Também não me lembro de quanto tempo deixei lá o peixe, mas sei que não terá sido muito (para garantir que ficava "no ponto" e que não secava).
Quando tirei o peixe do forno, o sal tinha formado uma película dura (parece pedra). Parti a película e, quando a tirei, a pele veio toda agarrada. Portanto... correu bem :)

Para acompanhar, assei umas batatas no forno e fiz uma salada com aquela mistura embalada do supermercado (limitei-me a cortá-la muito pequena, quase como se fosse caldo-verde), tomate cherry, pimento, pepito e coentros, temperada com sal, pimenta, oregãos, manjericão seco, azeite e (bastante) vinagre balsâmico.

SOPA DE COGUMELOS

Acho que nunca devo ter feito duas sopas iguais :) Desta vez, apeteceu-me experimentar coisas diferentes e resolvi fazer uma de cogumelos. Já lá vai algum tempo, mas acho que fiz assim:

Refoguei (em azeite) duas ou três cebolas, com uns dentes de alho. Juntei courgettes em cubos (com casca) e uma coisa que nunca tinha usado (nem provado) que se chama chuchu (e que a senhora da frutaria disse que era bom para substituir a batata na sopa. Como não tive coragem para lhe perguntar se era suposto tirar-lhe a casca - achei que atingi o limite quando perguntei se aquilo era uma fruta ou um vegetal - resolvi tirar, pelo sim, pelo não... Usei 3 chuchus - ou xuxus, não sei ). Juntei uma embalagem de cogumelos brancos inteiros, sal, água, uma batata e deixei cozinhar. Quando os vegetais estavam cozidos, juntei um raminho de coentros e passei tudo com a varinha mágica. Antes de apagar o lume ainda juntei uma caixa de cogumelos laminados e deixei tudo cozer mais um bocado. 
Quando servi, enfeitei os pratos colocando um bocadinho de parmesão ralado (na hora) por cima, e pimenta preta moída na altura.
(um dia vou experimentar gratinar esta sopa no forno, depois venho aqui contar como correu)

April 27, 2010

"Just focus on the rabbit" (Lasagna de atum)


Quando era criança, sempre me fascinou a história da Alice, a menina que vivia num mundo de fantasia e que, perseguindo um coelho, descobriu uma realidade, afinal, ainda mais estranha (no bom sentido) do que aquela que ela conseguia imaginar.

Quando fui ver a versão recente do Tim Burton (em duas palavras: ge-nial), apaixonei-me pela personagem do Chapeleiro. Louco, porém, com uma docura indescritível e um coração enorme.

Hoje convidei um velho Amigo para jantar. E aos poucos, enquanto a lasagna estava no formo, falámos da viagem que cada um de nós fez ao País das Maravilhas e de como, sem darmos por nós, perdemos o Coelho, e nos vimos completamente fascinados pelo Chapeleiro.

Há imensas coisas que não conseguimos explicar. Uma delas, é esta força que nos une a pessoas improváveis e que nos faz sentir tão vivos. Não sabemos explicar, nem sequer tentamos. No nosso País das Maravilhas, vamos deixando que nos vistam vestidos bonitos e nos ponham chapéus extravagantes. Não tentamos perceber, nem lutamos contra isso.
Todos sabemos que há forças contra as quais não vale a pena lutar.

LASAGNA DE ATUM
Não fazia há alguns anos... e no entanto, apesar do meu receio, lembro-me perfeitamente da receita, de tantas vezes a repetir, com imenso empenho.
É muito simples de fazer, porém, não aconselho a que a façam muitas vezes (sob pena de verem um aumento significativo tanto nos níveis de colesterol, como no tamanho da roupa). Não é de todo saudável, ok? :)
Numa frigideira, comecei por refogar cebola e alho (ambos bem picados). Quando estava tudo douradinho, juntei uma lata de atum (das grandalhonas). Com a colher de pau, fui desfazendo o atum e misturando bem no refogado. Depois juntei polpa de tomate, e deixei cozinhar. Por uma questão de simplicidade, daqui para a frente esta molhenga fica conhecida como "o atum".
Se tivesse paciência (e tempo) teria feito molho bechamel. Como não tive, comprei feito (usei dois pacotes).
Há gostos para tudo. Eu gosto da lasagna com camadas fininhas entre as placas de massa e com bastante queijo (se é para desgraçar, é para desgraçar a sério! Meias-desgraças não são comigo!). Portanto, para mim, o truque está em fazer camadas fininhas de recheio e espalmá-las quando se põe as placas... e ser generoso no queijo.
Untei o pirex com um bocadinho de azeite, e fiz uma primeira camada com o atum e um bocadinho de bechamel (misturei já dentro do próprio tabuleiro). Tapei esta primeira camada com a massa (eu uso da Milanesa, que é sem dúvida a que gosto mais; Não a cozo nem lavo antes de usar, porque gosto da lasagna "al dente"). A partir daqui, é ir alternando entre o bechamel e o atum e, em cada camada, juntar queijo ralado (eu uso mozarella e emmental e posso dizer que gastei um pacote de cada - lá está, se é para desgraçar.....). (NOTA: O emmental é non-negociable! Não se pode substituir por outro queijo, jamais, em tempo algum). A última camada tem de ser de bechamel. Para terminar em beleza, ponho bastante emmental por cima (bastante mesmo, para formar uma camada quando fôr ao forno) e faço uns bonecos ou escrevo coisas com ketchup (que dá um gosto meio adocicado à coisa e que permite personalizar).
Forno, desprezo... e já está! Quando a lasagna começar a ficar com bom aspecto, está pronta para contribuir para sermos pessoas menos saudáveis... :)

April 24, 2010

Learning (Um Timbale de Frango)


Sempre gostei de aprender, e procuro fazê-lo constantemente. Sou atenta, observo, oiço (e falo,eu sei... :) ), comento, questiono. 

É fantástico como, 31 anos depois, continuo a aprender (e a reaprender) diariamente, com os que preenchem (são) o meu mundo e os meus dias. A aprendizagem constante (sobre nós, sobre os outros e sobre o mundo) faz-nos andar para a frente, ser maiores. Saber mais, sentir mais. E, acima de tudo, querer saber e sentir (ainda) mais.

Já andava com este blog na cabeça há algum tempo, pelo que fui fazendo uma listinha dos cozinhados dos últimos tempos, para depois os pôr aqui. A este, ia chamar-lhe "Uma Pie de Frango". Com o artigo indefinido, porque é apenas isso: Uma. A minha, mas uma no meio de tantas que existem.. "Pie", porque não sabia o termo em português; Não podia chamar empada a algo com cerca de 20 cm de diâmetro... Nem dizer que tinha feito uma tarte, porque lhe pus uma "tampa"...

Entre tantas coisas boas que aprendi na semana passada, descobrir que isto se chama "Timbale", acabou por ser a menos importante.

UM TIMBALE DE FRANGO

Há dias, o ensaio,  cá em casa, foi antecedido por uns frangos no churrasco que fui buscar ali à Calçada da Ajuda, para desenrascar. Sobrou um frango quase inteiro, pelo que tive de o aproveitar no dia seguinte
Tirei as peles e os ossos e desfiei-o Para fazer o recheio, numa frigideira, com um bocadinho de azeite, fiz um refogado com bastante cebola, alho e alho francês. Juntei cenoura em cubos e, por fim, o frango (não o usei todo, era imenso!!). Temperei com sal, pimenta e oregãos e reguei com vinho branco (o Planalto que tinha sobrado do jantar do post anterior). Juntei um bocadinho de polpa de tomate e deixei cozinhar. Idealmente, teria juntado molho bechamel ou um bocado de leite com farinha. Como só tinha leite, juntei apenas isso, e resolvi o problema da consistência juntando uns pedaços de miolo de pão - again, tinha sobrado do jantar). Juntei também uns espinafres picados que tinha no congelador.
Foi então que descobri que não era apenas a farinha que faltava: precisava de duas embalagens de massa folhada (costumo comprar fresca), mas só tinha uma.  Entretanto, descobri uma de massa quebrada. Por isso, usei a quebrada para a base (coloquei-a numa forma, mantendo o papel vegetal que ela traz), despejei o recheio e "tapei" com a massa folhada (na qual fiz uns furinhos com um garfo, porque toda a gente sabe que os frangos mortos também respiram). Forno, desprezo... e já está!
Este timbale fica óptimo com salada, de preferência bem temperada com vinagre balsâmico.
[nota: gostava imenso de ter posto ervilhas, mas não tinha. Se resolverem replicar este timbale, ponham ervilhas, e depois digam-me como ficou. OK?] 

Partilhando... (Brie no forno e espetadas de peixe com molho de côco)



Julgo que eles são o meu casal preferido. Cada um deles é já um velho Amigo (no verdadeiro e muitíssimo completo sentido da palavra). E são o exemplo maior (e, infelizmente, raro) do caso em que, ainda que cada uma das partes seja, por si só, enorme, o resultado é maior que a sua soma simples.

Nessa noite, vinham cá jantar a casa. Saí a correr dos meus afazeres (felizmente eles colaboraram e vieram mais tarde porque já me conhecem), e passei no "sítio do costume" para comprar qualquer coisa para o jantar. Cheguei mesmo em cima da hora de fecho e por isso só tive tempo para agarrar num queijo, em pão, num pacote de natas, numa garrafa de "Planalto" (branco, claro), uma caixa de trufas e de petit gateau congelados e, por fim, para passar na peixaria para trazer umas espetadas de salmão, perca do nilo e pimento (recomendo. Mesmo) antes de seguir para a caixa. Gostava de um dia me conseguir ver a fazer compras: entro a correr, vou directa aos sítios, saio a correr. Pelo caminho, deixo cair coisas no chão e bato com o cesto sem querer nas arcas congeladoras, sempre aceleradíssima. Nos dias bons, consigo não chocar com ninguém.

BRIE NO FORNO
Gosto de queijos no forno (e virei aqui partilhar mais vezes, certamente). Desta vez, tudo o que fiz foi mesmo comprar um triângulo de Brie, e pôr num tabuleiro (sem mais nada). Deixei-o no forno um bocado (não faço ideia de tempos nem de temperaturas, faço tudo "a olho" e tentando aprender com os meus erros - eu bem disse que qualqer semelhança entre a minha cozinha e a minha vida... é pura realidade). Levei para mesa duas tacinhas com doce (uma de morango e outra de abóbora), porque a mistura é óptima, mas cada um sabe o que quer. Na mesa, estavam também umas tostas, que são óptimas para servir de base à mistura.


ESPETADAS DE PEIXE COM MOLHO DE CÔCO
As que usei eram espetadas de salmão, perca do nilo e pimento verde, mas também já fiz isto só com perca, ou só com espetadas de salmão. Temperei-as com sal, alecrim, manjericão e um bocadinho de cominhos. Deitei-as num tabuleiro com um bocadinho de azeite, e foram para o forno. Em geral, deixo o peixe sempre um bocadinho menos do que acho que devo deixar... e resulta :) O molho (que servi à parte) fiz da seguinte forma: refoguei cebola e alho. Depois, juntei miolo de camarão. Temperei com sal, pimenta e bastante açafrão (fica tudo cor-de-laranja). Quando estava cozinhado, juntei côco-ralado e, por fim, natas (eu uso "nata light", não só por gostar de contradições, mas também por gostar mais da consistência). Ficou mais uns minutinhos ao lume. Por fim, triturei tudo com a varinha mágica. O molho coloca-se (em quantidade) por cima do peixe e do acompanhamento.
Para acompanhar, fiz arroz basmatti, mas ainda não consegui acertar na melhor maneira de o fazer (sem perder 1 hora entre lavagens, secagens e afins). Quando conseguir, partilho aqui a dica, prometo ;)
Uma boa alternativa às saladas (que as grávidas só comem se forem "amukinadas") são legumes salteados. Eu fiz uns bróculos que, depois de cozer, salteei um bocado com azeite, alho e um bocadinho de cebola. Temperei com pimenta preta e cominhos (os cominhos dao à comida um toque marroquino, experimentem!). 

PETIT GÂTEAU
Sim, eu sei. Não custa nada, é só comprar congelado e fazer. Certo. Mas acreditem que faz toda a diferença fazê-los no forno (não me venham com teorias sobre o microondas e o grill, que não me convencem), e com este bastante quente. Assim, ficam completamente estaladiços por fora, e líquidos por dentro... Fantástico, mesmo. Se usarem um bom "coiso-para-servir-gelado", fazem uma bola gira (eu aconselho que seja de baunilha, e não de nata!). Põe uma folhinha de hortelã, e fazem um brilharete ;)
Prometo que em breve vou tentar fazer uns 100% caseiros, e depois conto como correu...


Já à mesa (nesse dia apenas com tons de preto, branco, beringela e cromado, que resultaram muito bem), falei-lhes das borboletas que vivem na minha barriga e eles falaram-me do "baby-to-be" que vive na "barriga" dela. Partilhámos memórias, visões do mundo em que vivemos (e daqueles que o preenchem), sorrisos, brindes, desejos, e tudo aquilo que nos é tão natural partilhar. Sabe-nos muito bem a certeza que, vivendo histórias alegres ou tristes, iremos sempre ter alguém a quem as contar. 
Soube-me bem vê-los felizes. Soube-me bem dar-lhes a alegria de me saberem feliz. Com tudo isto, o Brie, as espetadas e o petit-gateau, ainda que sejam alguns dos meus pratos preferidos, foram apenas actores secundários.

Amuse bouche


Ainda não vou deixar aqui nenhuma receita. Também não vou contar uma história. Para abrir o apetite, venho apenas deixar uma nota prévia.
Na cozinha, como na vida, não tenho método. Tenho regras, mas não tenho método. E isso nota-se, e muito. E, como ser humano que sou, adapto-me. Por isso, algumas das regras na minha cozinha são:

0. Todas as regras têm uma excepção... menos esta :)

1. Não tenho (nem quero ter) nenhum utensílio que tenha apenas uma utilidade (sou engenheira!!): não tenho nenhum cortador de ovos nem descaroçador (?), não tenho picadora (uso a varinha mágica), não tenho máquina de sumos (idem). A única razão pela qual tenho uma "faca de pão" é porque alguém a deixou cá em casa. O mesmo se aplica ao tira-caricas. Excepção: o "coisinho" para servir bolas de gelado (que ainda por cima é da côr do pimento que está ali em cima no título do blog)

2. Sou absoluta e assustadoramente "trapalhona de mãos". Por isso, nenhuma das minhas facas corta demasiado bem (gosto de ter 10 dedos em cada mão). Não faço "pratos bonitos" nem artísticos (não consigo). Excepção: Faço uns papillotes com massa fimo que eu acho que até ficam direitinhos...

3. Na minha cozinha, quem cozinha sou eu! Excepção: bem, falamos sobre isso depois...

4. Não sigo receitas à risca. Acho mesmo que não consigo. (o facto de não ter medidores nem balança - ver ponto 1 - ajuda. Não gostar de seguir instruções à risca também acaba por contribuir e muito para isto). Excepção: receitas muito simples e que deixam espaço para improvisação (porque não indicam quantidades e dizem para "temperar a gosto").

5. Não tenho absolutamente nada contra comida pré-feita e/ou congelada nem enlatados. Excepção: os cogumelos de lata e frasco. Não consigo... (os caldos knorr e afins também só entram em casos muito específicos)

6. Quando não tenho cão, caço com gato (e isso dá-me um gozo bestial). Excepção: não vou dizer já, terei oportunidade para isso ao longo do blog.

7. Não utilizo ingredientes aos quais sou alérgica (maçã, frutos secos - todos e pêssego) nem dos quais não gosto (borrego, cabrito, carnes esquisitas, caça, carne com muita gordura, sardinhas, marisco em geral, bichos que vivem em conchas, muitas frutas, morcela,  e, acima de tudo... azeitonas!). Excepção: dantes fazia "mexilhões com molhenga". Mas eram merecidos (e eu comia o molho).

(e outras tantas que não me lembro, mas que quem vier aqui de vez em quando vai começar a perceber).

Na vida, as regras são mais ou menos as mesmas.Em ambos os casos, aceito sugestões. Em ambos os casos, sou genuína. Em ambos os casos, ponho sempre um pedaço de mim naquilo que faço.


Até hoje, tem resultado. :)